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Por Bruno Souza da Silva
Émile Durkheim (1858 - 1917) é considerado por muitos o pai da sociologia moderna. Isso deve-se ao fato de que sua obra fora um marco para a consolidação do método cientifico à sociologia demonstrando qual o objeto que caberia a então recente ciência criada para analisar a complexa relação entre o indivíduo e a sociedade.
Em "As regras do método sociológico", Durkheim trata de explicitar a importância de se conhecer os meios pelos quais os sociólogos devem se debruçar para compreender tal relação.
Para Durkheim, a sociologia deve, inicialmente, assim como a biologia, química e outras ciências então conhecidas e já respeitadas, definir claramente qual seu objeto de estudo. Para isso começa a distinguir o individual do coletivo. O primeiro deve ser estudado pela psicologia (ciência que tem por objetivo estudar as consciências individuais) e possui um aspecto inferior em relação ao social. Este, por sua vez, é a expressão efetiva da coesão existente nas sociedades e deve ser compreendido a partir do estudo dos fatos sociais. O fato social é toda maneira de ser, agir e pensar do indivíduo e existe fora da consciência individual exercendo coesão sobre o mesmo. Ou seja, o fato social é exterior aos indivíduos e existe de forma independente em relação a eles e orientam a vida coletiva. Após definir o fato social como coisa, Durkheim concretiza o que deve ser o objeto da sociologia. E para exemplificar como se estuda um fato social ele utiliza vários fenômenos como o suicídio e o crime, por exemplo.
Ao estudar o suicídio, Durkheim coloca em prática a objetividade conquistada ao definir o fato social.
Para ele, o suicídio, ao mesmo tempo que possui aspectos resultantes da consciência individual de quem o comete, também expressa aspectos advindos da consciência coletiva. Esses aspectos são prioritários à sociologia, deixando os primeiros para que a psicologia os estude. Exemplo disso é o fato de Durkheim, ao analisar as cartas de despedida escritas pelos indivíduos, ignorar os motivos pessoais que levaram os mesmos a cometerem suicídio e focar apenas em motivos de origem social como trabalho, família e etc.
Outra maneira de exemplificar como o fato social deve ser encarado é encontrada na definição de Durkheim de solidariedade. Esta solidariedade pode ser encarada como uma forma de vinculo que mantém a coesão do grupo. E a partir deste pressuposto define os conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. A primeira consiste nas semelhanças entre os indivíduos, seja devido a simplicidade de suas relações ou seu pouco, ou quase nulo, contato com outros povos. A solidariedade orgânica expressa pelas diferenças que a moderna divisão do trabalho gera entre seus indivíduos criando uma sociedade de pessoas diferentes em suas funções, mas de igual importância para a vida coletiva.
Durkheim ainda nos dá uma noção da amplitude de um fato social ao analisar o fenômeno do crime.
O crime existe em todas as sociedades. Ao mesmo tempo, a pena, ou repressão, tomada contra atitudes consideradas criminosas nos mais variados tipos sociais também. Vemos, portanto, a expressão de uma característica importante da coesão, que é reprimir atos que vão contra ela e que passam a serem sentidos por quem os cumpre.
Ainda sob a perspectiva do crime, Durkheim, ao considerar que este existe em todas as sociedades, assume o caráter normal que alguns fenômenos sociais possuem. O normal é representado por sua generalidade, ou seja, o fato de ser comum e geral a todos os indivíduos e quando essa normalidade é quebrada o caráter patológico, anômico, se caracteriza e essa quebra deve chamar a atenção do sociólogo para o que pode ser um novo fato social, como quando as taxas de criminalidade diminuem ou aumentam drasticamente, por exemplo. Este caráter anômico é comparável a uma doença que atinge o meio coletivo abalando sua estrutura.
Por esses conceitos que podemos entender como o indivíduo se relaciona com o coletivo no pensamento de Durkheim.
Referências bibliográficas
Durkheim, Émile. As regras do método sociológico, in: Os pensadores. Editora Abril Cultural.
Durkheim, Émile. Da divisão do trabalho social. Tradução de Eduardo Brandão. Editora Martins Fontes.
Durkheim, Émile. O suicídio, Estudo sociológico. Tradução de Luz Cary, Margarida Garrido e J. Vasconscelos.
Giddens, Anthony. O problema do suicídio na sociologia francesa. In: Em defesa da sociologia.
Musse, Ricardo. Fato social e divisão do trabalho. Editora Ática.
Aron, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. Martins Fontes.
Cohn, Gabriel. Sociologia: para ler os clássicos. Rio de Janeiro.
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