O indivíduo, a ciência e o mundo - Síntese do racionalismo e existencialismo francês

Por Bruno Mussil

O mundo pós-revolução copernicana é representado pelo surgimento de transformações significativas na maneira de como o homem enxergava a vida e sua existência. A influência eclesiástica perdera gradativamente seu domínio e poder sobre o âmbito intelectual que, com o desenvolvimento da ciência, foi demonstrando lentamente qual a verdadeira importância do homem para interpretação e explicação do mundo que o cerca. 
O século XVII é um exemplo claro de como o pensamento humano ia se modificando após o surgimento das idéias revolucionárias trazidas à tona por Galileu e Copérnico. 

Pintura de René Descartes
René Descartes (1596 - 1650) viveu nesta época e sua importância é de tal grandeza que propôs o método ao qual a ciência deveria dispor para que suas afirmações fossem realmente indubitáveis. Descartes acreditava que bastava o homem duvidar para que sua existência fosse realmente comprovada. A famosa frase "Penso, logo existo" (Gogito, ergo sun) expressa resumidamente o que pensava o autor. Portanto, toda a existência depende do pensamento. 

Para Descartes, a dúvida deve, sempre que possível, ser ampliada ao máximo, tornando-se uma dúvida hiperbólica. Como resultado, vemos nessa ampliação o caráter objetivo que a ciência deve possuir e, aliada com os preceitos de evidência, de análise (dividir a dúvida, ou objeto, em quantas vezes forem necessárias para nossa compreensão), de síntese (partir das formas mais simples às mais complexas) e o de enumeração (rever todo o estudo), vemos expresso o caráter estritamente racional do pensamento científico. 

Pintura de Rembrandt intitulada "A lição de anatomia do Dr. Tulp" que pode ser considerada racionalista. Vemos como a ciência começa a instigar a mente humana nessa época.
Com o pontapé inicial dado por Descartes explicitando a importância da razão para compreender quem somos, outras doutrinas filosóficas foram surgindo com o passar do tempo com o intuito de entender esta relação sujeito e o mundo. Podemos citar o idealismo alemão, doutrina filosófica que expressa importância da razão e de conhecimentos a priori, anteriores à existência, e o existencialismo. Este último teve como seu principal pensador o francês Jean-Paul Sartre (1905-1980). Para os existencialistas, a existência precede a essência. Ou seja, para "ser" o homem precisa, antes de tudo, existir. Na busca do entendimento do próprio homem sobre si mesmo, o seu futuro e o mundo que o cerca, Sartre demonstra a importância das ações e do engajamento. As ações são os que nos define, e nos definindo acabamos definindo quem é o outro (engajamento).

Todas estas ações partem da premissa do penso, logo existo cartesiano, cuja influencia é explicita na tentativa existencialista na apreensão do "eu", sem intermediário. Vemos, portanto, essa estreita relação entre o existencialismo com o cartesianismo no aspecto subjetivo, ou seja, no que se refere à intenção de atribuir ao indivíduo toda a responsabilidade de buscar a compreensão do mundo na própria realidade do mundo, não mais em especulações metafísicas, ou eclesiásticas.  

Comentários

  1. Ser "todos" sendo apenas um! Exercício difícil para fazer sozinho e sem consultas. rsrs

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