Resenha Crítica do texto "Genealogia do poder" de Michel Foucault

Por Bruno Mussil 

Michel Foucault em seu livro "Microfísica do poder"estuda as variantes que o termo poder posuir e como o ser humano interage com ele. No capítulo "genealogia do poder", Foucault faz a análise do termo sob seu ponto de vista genealógico sobre forte influência de Nietzsche.

O autor inicia o capitulo com um reflexão acerca da crítica, tendencia que orientou grande parte dos pensadores do século XX. Ele nos diz que a critica possui um aspecto local que foi por ele definido como "uma espécie de produção teórica que não necessita da concordância de um sistema comum para estabelecer sua validade" e essa crítica local trouxe consigo o que Foucault chama de retorno do saber resultando na insurreição dos saberes dominados, ou seja, o surgimento da oposição de saberes capazes de abalar a "ordem" preestabelecida pelo discurso científico. Os saberes dominados em Foucault podem ser classificados em dois grupos: (a) saberes de conteúdo histórico que foram sepultados e trazidos a tona com a crítica que caracterizam a erudição; (b) saberes tidos como desqualificados - ou saber das pessoas. Foucault demonstra que nos dois tipos de saber, erudito e desqualificado, o que existe em comum à eles é que ambos tratam do saber histórico de lutas já que as memórias sobre os combates abarcavam os dois tipos de saber dominado. 

Após sua definição de saber dominado, Foucault passa a definir a importância, não apenas metodológica, mas também ideológica da genealogia na construção do saber humano e na compreensão daquilo que por ele foi definido como relações de poder. Para ele a genealogia, diferentemente do discurso científico, consegue agrupar tanto aspectos do erudito como do saber das pessoas (saber tido como desqualificado) o que tornaria o saber local, histórico, capaz de se se opor aos efeitos de poder centralizadores do discurso científico. Logo, a genealogia seria uma anti-ciência e seu intuito é o de encontrar a essência do saber, retirando a condição que os saberes mascarados foram classificados. É através da genealogia que Foucault tenta compreender o poder. Para isso apresenta duas formas distintas da concepção de poder, a primeira jurídica e a segunda econômica. A primeira representa o poder como algo capaz de ser algo possuído, ou seja, um bem, algo concreto que pertence ao homem. Assim sendo, o homem poderia ceder seu poder por um ato de direito resultando em um contrato. A segunda característica do poder representa seu aspecto econômico, cuja expressão é analisada por Foucault sobre a perspectiva marxista. Nesta perspectiva o poder é tido como algo cujo papel é manter relações de produção e reproduzir uma dominação de classe. O autor diz que o poder não é o concreto, ou seja, não é um objeto em si que se dá ou retoma ou troca e também não é algo que visa pura e simplesmente a manutenção e reprodução das relações econômicas. Na verdade o poder se exerce (só existe em ação) e é uma relação de força. Logo, as relações de poder tem por base uma relação de força estabelecida na guerra e pela guerra. 

Por fim, Foucault conclui o capítulo expondo que o poder possui dois esquemas de análise. O esquema contrato-opressão, que é o jurídico, baseado na oposição legitimo-ilegitimo e o esquema guerra-opressão que caracteriza-se na oposição luta e submissão. 

O texto de Foucault é um texto cuja construção é muito bem feita e suas reflexões nos auxiliam bastante na compreensão de questões essenciais da vida humana. Mas o texto também nos apresenta uma questão, algumas vezes, até mesmo contraditória no que se refere à temática dos saberes que Foucault define e sua relação com o que podemos considerar sendo verdade ou não. 

A busca de uma verdade orienta o pensamento humano desde os primórdios da razão. Foucault demonstra que esta busca possui um caráter temporário, afinal, quantas verdades sobre temas importantíssimos já se transformaram com o passar do tempo? Muitas. Assim, na tentativa de Foucault em expor os tipos de saberes, mais especificamente o saber tido como desqualificado, ele tem o objetivo de dar forças a esses saberes para conseguirem se opor ao discurso científico, mas nos parece que o autor deixa de fazer uma questão essencial antes de detalhar ou definir os saberes. Esta questão seria: até que ponto o saber das pessoas (saber tido como desqualificado) é verossímil para construção de uma essência do saber? 

O francês Jean-Paul Sartre, por exemplo. abordou essa questão em sua filosofia existencialista, corrente filosófica muito influente na França do século XX. Para Sartre,a existência precede a essência, assim o indivíduo precisa existir para ser. Em uma de suas frases encontradas no texto "O existencialismo é um humanismo" Sartre consegue também expor a importância do outro na compreensão do eu, ao afirmar que "escolhendo-me, escolho o homem". Logo, quando me defino, defino a humanidade, pois o outro será aquilo que eu imagino ser. Fazendo um anexo com o pensamento foucaultiano vemos que ambos podem afirmar a verdade ser relativa, mas Sartre é quem define o limite do saber ao afirmar que o saber é relativo ao indivíduo e à sua compreensão do mundo que vive. 
Logo, se Foucault se preocupa tanto em desconstruir o poder do discurso científico, seria necessário, antes de tudo, abordar mais detalhadamente o tipo de saber que faria oposição ao saber erudito e definir se a verdade é esse algo relativo ou geral.

Referências bibliográficas

FOUCAULT, Michel. Genealogia do poder. In Microfísicado poder - pp.167-177.

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